sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Paula Correa

Foi bem assim quando tentei dizer adeus pela primeira vez.

Jeito de bicho do mato.

Arredio. Rasgando palavras.

Rasgando papel. Foi bem assim.

Coreografia da despedida.

Olhos no chão. Mãos vazias.

Pés fincados no tempo de esquecer o que não se esquece.

Medos, culpas e sonhos em um baú lacrado.

Silêncio. Noite escura.

Meia lua vestida de noiva.

Foi bem assim.

Máscara e tecidos.

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Melhor não dizer muita coisa.

Mas o muita coisa faz questão de dizer-se.

Então eu sedo ao indizível que deseja virar matéria-palavra.

É difícil dizer não.

Foi assim... entrou pela porta da frente.

Sentou.

Falou duas palavras e já tinha virado semente.

Depois de uma semana, já era planta.

Já era jardim.

Então, como é que a gente não diz?

Tem mesmo é que dizer que ama e correr com este segredo pra longe daqui.




terça-feira, 25 de agosto de 2009

DRUMMOND


porque amou por que amou

se sabia

p r o i b i d o p a s s e a r s e n t i m e n t o s

ternos ou desesperados

nesse museu do pardo indiferente

me diga: mas por que

amar sofrer talvez como se morre

de varíola voluntária vágula evidente?

ah PORQUE AMOU

e se queimou

todo por dentro por fora nos cantos ecos

lúgubres de você mesm(o,a)

irm(ã,o) retrato espetáculo por que amou?

se era para

ou era por

como se entretanto todavia

toda via mas toda vida

é indignação do achado e aguda espotejação

da carne do conhecimento, ora veja

permita cavalheir(o,a)

amig(o,a) me releve

este malestar

cantarino escarninho piedoso

este querer consolar sem muita convicção

o que é inconsolável de ofício

a morte é esconsolável consolatrix consoadíssima

a vida também

tudo também

mas o amor car(o,a) colega este não consola nunca de nuncarás.

VALENCIA 2009

VALEU.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O discurso que não foi

Carta de agradecimentos à turma de Arquitetura de 2009.1 - FAUFBA

Profa. Solange Araújo, Ilma. Sra. Diretora,
Senhores Pais, Ilmos. Paraninfos,
Prof. Guivaldo Baptista, Honrado Patrono da Turma
Prof. Marcos Queiroz, Prof. Homenageado com todos os méritos,
Novíssimos Arquitetos,
Senhoras e senhores presentes:


É com imensa alegria que recebo a homenagem da turma. A felicidade que vocês me proporcionam neste momento é uma prova de que o trabalho honesto e dedicado paga muito bem, e em moeda de mais valor do que qualquer metal.

Por uma sucessão de eventos, não pude estar presente nesta noite de festa. Peço desculpas pela ausência, mas aproveito para lembrar momentos que compartilhamos durante estes anos de convivência:

Lembrar as maratonas de matrículas ao lado de nossa querida Rosa;

Lembrar as demandas, processos, inclusões, exclusões, quebras disso, registro daquilo, carta daquilo outro, contratos, horários e até - quem diria? livros...

Lembrar os intercâmbios, antes, durante e depois. Os sonhos. Os seus e os meus, que pudemos sonhar alto, talvez por termos a mesma idade e pouca ou nenhuma cerimônia, talvez porque sonhos são assim mesmo, não se deixam aprisionar.

Ter vivido tudo isso é por si uma conquista. Ganhamos todos com o privilégio de estar em uma Universidade pública, ganhamos pelos valores que cultivamos, ganhamos pelo apoio mútuo em cada um desses momentos. Esta é, portanto, uma noite de vitórias e de vitoriosos: Famílias, amigos e nós todos, estudantes, funcionários e professores da Faculdade de Arquitetura celebramos o caminho percorrido até este momento especial.

Peço licença para fazer uma observação pessoal: Tendo ingressado na UFBA junto com alguns de vocês, esta é a primeira turma em que posso reconhecer os rostos que vi chegarem direto do colégio, cheios de dúvidas, de esperanças, agrupados em blocos de calouros amedrontados pelos anúncios de trotes, ansiosos pelas maquetes, encantados pelo novo mundo em que acabavam de colocar o pé, tão parecidos comigo do outro lado do balcão do Colegiado, ainda estudante, sem ter então idéia do que se passaria até esta noite. Valeu. Valeu também por aqueles que já estavam na Faculdade, que caminharam até aqui entre outras conquistas, outras batalhas, caminhos os mais distintos. Tenho assistido a grandes feitos e a demonstrações diárias de força de vontade e de determinação. Tudo isso vale muito, tenham certeza.

Peço licença também para me aventurar brevemente no mundo da Arquitetura. Se a Arquitetura é a profissão da vanguarda, é também a da necessidade mais básica – a moradia. É a profissão do trabalho, do templo, da cidade, do lugar, do não-lugar. É uma vocação admirável e um trabalho respeitável. Renova as esperanças ver que essa tarefa foi dada a vocês, que detêm a criatividade e a consciência necessárias para ligar as duas pontas da profissão e trabalhar por uma sociedade melhor, mais justa, mais ecológica, sadia, feliz e produtiva.

Mais uma vez, muito, muitíssimo obrigado. Desejo-lhes sucesso, bom tempo, saúde e que Deus lhes ilumine. Comemorem esta noite em grande estilo, e a vida depois dela com amor e merecimento.


Pedro Laurentino

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

20 anos blues

Ontem de manhã quando acordei
Olhei a vida e me espantei
Eu tenho mais de 20 anos
E eu tenho mais de mil perguntas sem respostas
Estou ligada num futuro blue
Os meus pais nas minhas costas
As raizes na marquise
Eu tenho mais de vinte muros
O sangue jorra pelos furos pelas veias de um jornal
Eu não te quero
Eu te quero mal
Essa calma que inventei, bem sei
Custou as contas que contei
Eu tenho mais de 20 anos
E eu quero as cores e os colirios
Meus delirios
Estou ligada num futuro blue
Os meus pais nas minhas costas
As raizes na marquise
Eu tenho mais de vinte muros
O sangue jorra pelos furos pelas veias de um jornal
Eu não te quero
Eu te quero mal
Ontem de manhã quando acordei
Olhei a vida e me espantei
Eu tenho mais de 20 anos